LIVRO "CIDADÃ DE SEGUNDA CLASSE", DE BUCHI EMECHETA


Hoje é domingo e o relógio marca 10h25 no momento em que começo a escrever esse post. Acabei de ler Cidadã de segunda classe há alguns minutos e sinto uma necessidade urgente de escrever e falar sobre ele enquanto estou envolvida e impactada pelas emoções que essa leitura me causou.

Conheci a escritora nigeriana Buchi Emecheta através de um clube de assinaturas em que participei lá em 2017, a Tag experiências literárias. Na ocasião, recebi um livro desta autora chamado As alegrias da maternidade, cuja leitura é uma das melhores que fiz na vida e cujas impressões guardo comigo até hoje. A curadoria dos livros que a Tag envia aos seus assinantes é feita por diversas personalidades do mundo da literatura, onde elas indicam livros que influenciaram suas vidas, suas formações e seus processos de escrita. Quem indicou Buchi Emecheta aos assinantes foi Chimamanda Ngozi Adichie. Naquela época, Buchi Emecheta não era publicada no Brasil. A Tag comprou os direitos e imprimiu os livros com exclusividade aos assinantes do clube de leitura. 

Em setembro passado, eu estava passeando na livraria Martins Fontes na Avenida Paulista, namorando os livros, querendo tudo mas achando tudo muito caro, quando me deparei com esse livro, Cidadã de segunda classe. Fiquei muito feliz em saber que outra editora estava publicando suas obras por aqui! Peguei o livro, nem olhei preço, comprei imediatamente e saí da livraria muito feliz! Voltei para casa lendo o livro no metrô, ignorando completamente outro livro que já estava na minha bolsa, com a leitura adiantada. E demorei três meses para concluir Cidadã de segunda classe por motivo de piriguetagem literária (lendo muitos livros ao mesmo tempo).

Buchi Emecheta escreve sobre feminismo sem escrever sobre feminismo, saca? Através da história de sua personagem Adah, ela conta sobre como é ser uma mulher numa sociedade onde a mulher é considerara um ser humano de segunda classe. Numa primeira fase, sua história é ambientada na Nigéria, na tribo Igbó, onde nasceu Adah, que desde cedo teve que lutar para realizar o sonho de estudar, que era alimentado por seu pai, e minado por sua mãe, condicionada a ser "só" uma mulher.

Aqui, ela aborda com muita naturalidade pautas sobre a mulher "pertencer" à alguém, sendo vendida ao marido por um dote, proibida de estudar, proibida de liberdade, proibida de decidir sobre seu corpo (não querer filhos e o marido proibir métodos contraceptivos), sendo objeto do marido, onde ela trabalha para custear os estudos do seu companheiro e não recebe nada de volta. À mulher é negado direitos, descanso, prazeres e amor. A mulher é tratada como um animal. 

A vida de suas personagens são muito parecidas com a vida da própria autora, que migraram da Nigéria para Londres a fim de estudar, trabalhar para conseguir melhores condições, mas que tiveram muitos filhos e sofreram horrores para quebrar um ciclo de pobreza e problemas por conta do extremo machismo e exploração de seus próprios maridos.

Essa é uma leitura poderosa, que mexe com suas emoções e com os seus sentimentos. A medida que se avança na leitura, proporcionalmente cresce um incômodo, um mal estar, uma revolta, uma indignação e uma torcida deliberada para que Adah saia de sua situação desesperadora. Eu não suportaria viver 10% do que Adah viveu. Adah não viveu na realidade, mas Buchi Emecheta sim. 

Parece-me que esse livro tem uma continuação cujo romance se chama No fundo do Poço. Lá vou eu comprar mais um livrinho da Buchi Emecheta. É uma pena que ela não seja mais viva para ver que seus livros são publicados do outro lado do mundo e que inspira tantos outros leitores.

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